22 de março de 2011

Vilarejo


Há um vilarejo em mim. Os montes encobrindo a calmaria do horizonte que sou. Por entre rios me faço refúgio pra mim. Os ventos sopram no sentido que vão os meus sonhos e viajam a quilômetros pra encontrar descanso. Brinco de ser camponesa em uma realidade só minha. Desconhecida. Esculpida por fantasias de menina.  Danço com roupas floris a primavera que chegou aqui. Pintada nos lírios do campo, seguem em leves arranjos. São prantos disfarçados. Um dia o campo estava todo molhado e no outro todo enfeitado.

O olhar de dentro é mais belo menino. De fora é só mármore velho. É pra dentro que construo fuga. Esta ao alcance, logo aqui perto dos olhos. Debaixo de pestanas pesadas existe um sonho. Desenhado por [dez]encantos, feito de [dez]amores e até os [dez]encontros.  Saio do lago quando venho por acaso. Mais é do céu que venho quando quero, pulando nuvens e descendo de guarda-chuva no amarelo pálido.  Gosto daqui menino. Tem cheiro de jabuticaba no pé. E de terra molhada ao amanhecer.

Na tarde vi o sol entardecer. Vi os desafetos serem retocados com carinho. Vi meus medos subirem as chaminés, queimados por amor. Foi ali que percebi o oleiro amassando os defeitos. Tentando moldá-los todos a seu jeito. Foi de mansinho que senti a verdade transformada pra mim. E no quintal cheio de frutos a sorte me chamar pra passear. É aqui que quero ficar menino. O mundo fica tão mais bonito visto de cima da macieira. O tempo pára pra eu gozar. Só volta quando eu deixar. Paraíso se mudou para cá.

Caminhos de pedras são rotina. Aqui só tropeço pra levantar e levanto pra andar. O pássaro azul me contou de um lugarzinho perto da cachoeira que as crianças catam pedras pra guardar. Quis experimentar colecionar pedras do meio do caminho. Aqui elas costumam não atrapalhar. Mais nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra.

Porque há um vilarejo em mim menino que aprendi a me espalhar como folhas ao vento. Contar o momento. Sentir os sentimentos. Descobrir o que não gosto de mim. Levo pra lá tudo que não quero cá. É só lá que consigo olhar, e até gostar.


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