31 de agosto de 2011

(In)acabada

"Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
o antes, o agora e o depois"
Sozinho - Peninha


Sabe o que é? Hoje me deu vontade de te escrever. Deu vontade de escrever. Não costumo querer. Não sei fazer. Todas aquelas rimas de poesia que eu fico, você fica, ah! Todo mundo fica lendo e relendo pra tentar entender toda a profundidade. Talvez eu não seja tão profunda. Você já conhece esse meu jeito tímido de querer. Sou desastrada, um tipo engraçada. Fico fazendo caras e bocas te tentando, me insinuando, esperando que você me leia como a um diário perdido na areia. A verdade é que eu queria fazer pular, saltar palavras. Prefiro não ser tão absoluta. Tá perfurando meus órgãos, invadindo, se alojando.

Não dá. Não vou ser com você tão rasa. Você me causa, me delira. Me faz desejar a mim desse jeito melhor pra você. Do jeito que escreve, que te manda cartas com frases cantadas me revelando, mostrando minhas camadas. Todas abusadas. Eu tenho os meus desejos e planos secretos, só abro pra você mais ninguém. Estou me cortando, costurando, me retalhando, juntando todos pedaços mais queridos, os carinhos, mimos coloridos e montando a manta. 

Seu orgulho entregue, despejado para cobrir os pés do amor. De repente me vejo sendo pronta, (in)acabada. Um inteiro todo de detalhes tão pequenos que não saberia separá-los. É seu. Meu desejo. Minha manta. Eu manta. Aí me lembro do dia em que te vi e estranhamente te percebi, essas coisas a gente nunca acha que acontece de verdade. Cinema, livro, música, poesia... éh poesia! Eu a senti. Sua boca despejava sobre a mesa toda ela. Um recital de palavras nada eruditas, mas eram ditas entre uma respiração e outra, eu podia ver com lentidão elas vindo a mim, tinha uma espécie de força gravitacional. 

Tive medo. Normal, sempre tenho medo de me rasgar. Sei no que dá, mas o que importa se posso me emendar? Se não for hoje, vai ser amanhã. Vai ser quando eu quiser ou puder. A questão é que você me fez enxergar, e os olhos estavam virados pra mim enquanto eu passava toda a noite ouvindo a mesma poesia, sua voz nela. Percebi. Descobri que todas as semelhanças são inversamente proporcionais ao que vem de você. 

A gente bem que poderia dar certo, se misturar e ver que cor dá. Essa coisa toda. É que fica tão mais fácil ser eu, com você. Bem que a gente podia sentar naquele banco perto da minha casa no domingo, só pra você rir de mim falando bobagens pra te conquistar de mansinho. Vem me visitar. É exatamente isso. Me visita, me conhece, entra aqui, to esperando você vir.


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P.s.: Enquanto isso fico aqui, olhando pra o teto, te imaginando e poetizando.