16 de setembro de 2010

Rosa

"A existência de você dá 
um sentido à vida e a justifica."
Clarice Lispector


O barulho. O escuro. Esse cheiro de lavanda no ar. Te procuro e não sei te enxergar. Queria sua mão descendo por minha nuca, seu rosto quente afagando o frenesi do coração. É assim  que me sinto, puro algodão. Desmanchando, me rasgando por aí. Me deixando cair. Histórias e mais histórias me fazem por um instante até sorrir, mais vejo o leve vapor do brilho, vem a lembrança de não estar por aqui.

O sino toca, a igreja me acorda. O domingo é quente. Sol de primavera, abre sobre o teto de estrelas da noite passada. Aquela arrastada pela vaga no travesseiro. Um assunto qualquer me chama atenção na casa ao lado, a menina com bonecas imagina a vida como quer, com quem quer.Vi a brincadeira que se alongava com pequenos detalhes cor de rosa. Apenas mãos por todos os lados.

Esse doce sentido que dá sentido. Toque. O escorregar dos dedos na pele. E a menina-moça se dá conta que o rosa evapora. Uma questão abstrata de preto no branco. Chora. Esgota o sentimento. Vê mais que um gesto, é a necessidade de aconchego. Exatamente assim, brincando de querer um carinho. De viver de mansinho. Sentir vento na coluna. Uma possibilidade rosa.

Te querer bem é inevitável. Te querer aqui é exagero. Esse tal que se diz largo, em mim, apenas um espaço. Lugar pra guardar coisinhas atrevidas. Sinto faltas triviais. Um excesso de desejos. De limpar tua boca suja no cantinho com sorvete de  manga. Desejo de pegar o cílio que caiu em teu rosto. Desejo de segurar tua mão andando pela rua. De me virar ao lado e entrelaçar os dedos em seu cabelo. Um desejo de cobrir você enquanto dorme. Sentir a temperatura do seu corpo na ponta dos dedos.

Eu desejo fazer do teu braço apoio certo para minha mão. Desejo também te segurar e puxar pra mim enquanto você caminha na direção oposta. Tenho desejo de deixar minha mão sobre seu peito e sentir a batida do seu coração. De distribuir mimos em tua sobrancelha. Desejo desenhar tua orelha com os dedos antes de dormir. De escrever em seu braço nossos nomes. Fazer coraçõezinhos imaginários em sua mão com minhas pontinhas. Desejo de tecer movimentos delicados em seu rosto. De dar um nó em nossas mãos, sentindo que nunca mais irão se separar. 

Desejos que até me fazem delirar por um toque. De te ter em minhas mãos. De ver mais que o preto no branco. É acordar e ver com meus dedos sua presença enchendo o quarto. O abraço que precisa ser do teu tamanho.

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Assim, enquanto brinco de imaginar fico rosa profundo. Viro menina. 
Te alcanço.

4 comentários:

Felipe Braga disse...

Às vezes a vida o caminho para certas maravilhas. E fico me perguntando: Vida, por quê demorou tanto?

Tamanha habilidade para lidar com as palavras. Parabéns!

Beijos.

Amanda Beatriz disse...

lindo esse texto! dá p/ sentir a mudança de menina p/ mulher. e o amor tão profundo, junto com tantos desejos. muito bom!
beijo.

Jaya Magalhães disse...

Aaaaaaaah, vocêeeeeeeeeeee!

Vi nos seguidores e espiei. Volto pra ler.

Beijoca.

Michele disse...

Isso sim que é amor, Tai! Adorei! :)
Suas palavras são doces!

E gostei muito da sua visita também!

Beijos!